06/09/2015 - Folha de S. Paulo
Com três anos de atraso em relação ao cronograma inicial, o porto Sudeste, em Itaguaí (RJ), realizou, no fim de semana passado, seu primeiro embarque de minério de ferro.
A chegada do primeiro navio, no entanto, não elimina as interrogações que pairam sobre o projeto idealizado por Eike Batista, que custou R$ 4,2 bilhões e ficou pronto em um momento de crise aguda nos preços das commodities.
No dia 13, o porto demitiu 138 empregados, o equivalente a um terço de seu quadro de pessoal, segundo informações da seção de Itaguaí do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Prospecção, Pesquisa e Extração de Minérios (Sindimina-RJ).
"Daqui, só contrataram um rapaz, que está com dois barcos para fazer amarração dos navios", reclama o barqueiro Delci Quirino, 56, que trabalha com uma pequena lancha no transporte de passageiros a partir da praia da vila da Ilha da Madeira, onde a gigantesca estrutura do píer chama a atenção.
Assim como muitos moradores, Quirino tentou surfar na promessa de oportunidades com a chegada dos empreendimentos –além do porto, a vila sedia a fábrica de submarinos da Marinha.
"Juntei minhas economias e abri um bar, acreditando que iria atrair o pessoal das firmas... Foi um fracasso total."
Em 2012, quando o porto assinou contrato para o embarque de minério da Usiminas, a previsão era fechar 2015 com uma movimentação de 46 milhões de toneladas –12 milhões da siderúrgica mineira e 34 milhões da MMX, do grupo de Eike.
Na primeira operação, foram embarcadas 80 mil toneladas no navio AM Ghent, com destino à China. Um segundo embarque está previsto ainda para este mês.
Até lá, os dois carregadores de navios, cada um com capacidade para movimentar 12 mil toneladas por hora, permanecem parados.
Os dois principais clientes suspenderam os embarques: a MMX está em recuperação judicial e fechou suas minas; a Usiminas anunciou em junho a intenção de romper o contrato, alegando atrasos no início das operações do porto, hoje operado pela Impala Terminals, subsidiária da Trafigura, baseada em Genebra.
"Dada a previsão atual de demanda por minério e a conclusão da fase de trabalho intensivo, o porto Sudeste está tomando medidas essenciais para alinhar a sua base de custos com volumes [de movimentação de minério]", diz a empresa, quando questionada sobre as demissões.
A Impala e o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, anunciaram acordo para comprar 65% do projeto em setembro de 2013, quando o minério custava US$ 134 por tonelada. Pagaram US$ 400 milhões e assumiram uma dívida de R$ 1,3 bilhão da MMX, antiga controladora.
Em julho, a cotação era de US$ 51,50 por tonelada.
Os controladores do porto minimizam a situação difícil, afirmando que se trata de um projeto de longo prazo. "É um ativo-chave para mineradores localizados ao longo da malha ferroviária da MRS Logística", defenderam, em nota.
A Trafigura aposta na compra da unidade Serra Azul, da MMX, para garantir movimento no porto.
O negócio foi aprovado no dia 28 em assembleia de credores da mineradora de Eike. Por R$ 70 milhões, a Trafigura terá 51% do projeto. O restante ficará com outros credores.
Fonte: Folha de S. Paulo
Publicada em:: 06/09/2015
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