sexta-feira, 8 de março de 2013

Barcas sob nova direção, mas com velhos problemas

08/03/2013 - O Globo

Mudanças só devem ocorrer no longo prazo, enquanto isso há previsão de mais aumentos

PEDRO MANSUR

Filas no catamarã que faz a linha Charitas-Praça XV da CCR Barcas Luisa Valle / O Globo

RIO - Os problemas de falta de embarcações, atrasos e longas filas nas estações das barcas registrados na última semana estão longe de serem resolvidos. Pelo menos em curto prazo. A previsão é que uma nova barca entre em operação na próxima segunda-feira, na linha Charitas, e uma terceira já está sendo negociada para o fim de março para operar, provavelmente, em Paquetá. Já as nove barcas encomendadas pelo governo por R$ 273 milhões só devem entrar em circulação entre 2014 e 2015. Enquanto isso, a CCR Barcas recebeu autorização da Agetransp para reajustar o valor da passagem da linha Charitas-Praça Quinze, que passaria de R$ 12 para R$ 13,50, apesar da recomendação de manter o valor promocional.

Na hora em que a gente resolver o problema de Charitas, quando estiver de acordo com o que o usuário precisa, aí nós vamos falar algo. Nós não planejamos aumentar agora explicou o atual presidente da CCR Barcas, Márcio Roberto de Moraes e Silva, referindo-se às obras para instalação de ar-condicionado e cadeiras no corredor de embarque da estação projetada por Oscar Niemeyer, que devem ficar prontas em julho.

Enquanto os usuários aguardam as mudanças e um possível aumento, os problemas continuam. Só nesta semana foram registradas pelo menos duas confusões em Charitas. Na quarta-feira, duas embarcações precisaram ser retiradas de circulação, o que provocou enormes filas e deixou os horários irregulares. O tempo de espera para embarque chegava a 40 minutos e as filas tomavam o calçadão da praia. Segundo a concessionária CCR Barcas, o intervalo entre as embarcações era de 20 minutos. Polícias militares foram acionados e ficaram posicionados no entorno da estação para evitar confusões e depredações.

Dois dias antes, na segunda-feira, uma grande confusão ocorreu na estação, após o catamarã que sairia às 8h35m apresentar defeito mecânico. Devido ao atraso, os passageiros ficaram cerca de quarenta minutos sob o sol, aguardando uma nova embarcação. Revoltados, alguns usuários pularam as roletas ao chegar à estação e, como embarcaram num catamarã já cheio, tiveram que ser transferidos para outro. A medida provocou discussão entre passageiros e funcionários, e, por isso, a barca só saiu de Niterói às 9h17m. Durante a travessia, pessoas ficaram em pé, protestando contra o atraso. Como a viagem só pode prosseguir com todos sentados, a tripulação foi obrigada a parar duas vezes. O catamarã só chegou ao Rio às 9h33m, pois teria excedido a velocidade padrão.

Para a jornalista Ana Leticia de Morais Ribeiro, que usa a linha diariamente, a situação da segunda-feira só foi diferente por que teve um atraso ainda maior.

É o cúmulo você ter que pagar por um serviço que, se o mundo fosse honesto, teria que ser público. Entendo a revolta das pessoas que pularam as catracas e as que ficaram em pé na embarcação. Eu paguei R$ 15, porque pego o integração Itaipu e me senti utilizando o serviço comum, que custa um preço não menos injusto (R$ 4,50). Se quiserem oferecer um serviço de péssima qualidade como este, para que segmentar preço e público? pergunta a moradora de Piratininga, de 26 anos.

O engenheiro Sergio Bruno, que usa a linha Charitas-Praça Quinze todos os dias, relata que já virou rotina os atrasos no catamarã.

Está cada vez mais ridículo. Quando assumiram, cheguei a ter a impressão que o serviço iria melhorar com a nova concessionária, mas eles estão fazendo coisas até piores do que a Barcas S/A (antiga concessionária). Estão maquiando os horários de saída tanto dos catamarãs quanto das barcas normais, dizendo que a operação está normal enquanto os horários estão irregulares contou o morador de São Francisco, que disse já ter visto um catamarã ser atrasado de propósito para mais pessoas embarcarem.

O presidente da CCR Barcas admite que atualmente o serviço das barcas não é o ideal. Ele, no entanto, explica que num primeiro momento o foco da concessionária é buscar novas embarcações e melhorar a infraestrutura das estações.

Sabemos da insatisfação do usuário, não é novidade para nós. Problema de falta de informação é até muito fácil (de resolver), com um sistema de som. Além disso, o site ainda está passando por uma reforma. Mas embarcação eu não resolvo de um dia para o outro. Então o nosso grande trabalho é colocar embarcação nova, esse é o foco disse ele, afirmando ainda que durante muito tempo a empresa funcionou sem equilíbrio financeiro:

Essa é uma empresa que passou 14 anos com o contrato desequilibrado, os custos e os investimentos não estão refletidos na tarifa praticada. E quando isso acontece, se você não tem o contrato equilibrado, você não está, de uma forma ou de outra, fazendo tudo aquilo que precisa ser feito, até porque você não está sendo remunerado por aquilo. Então naturalmente tem um passivo de toda ordem. E esse é o cenário que a gente pegou há oito meses.

Para a recém-nomeada secretária estadual de Proteção e Defesa do Consumidor , Cidinha Campos, o silêncio da CCR quando ocorrem problemas é "um absurdo".

A situação da informação é crítica. Eles tem que reconhecer essa situação e não reconhecem. A situação da comunicação com o público está muito ruim. Quem não se comunica se trumbica, já dizia o Chacrinha. Tem que colocar as informações nos painéis dentro da barca, no site. Estão fazendo um esforço nas operações, mas a comunicação é uma coisa básica, o consumidor precisa saber o que ocorre, até para evitar um tumulto.

Problemas também na linha Praça Quinze-Niterói

A situação também é complicada na linha principal das barcas, entre a Praça Quinze e o Centro de Niterói. Problemas mecânicos durante os horários de pico têm causado atrasos quase diários, o que já complica ainda mais um sistema sobrecarregado. Apesar disso, a tarifa da linha foi reajustada de R$ 4,50 para R$ 4,80, novo valor que vale a partir do começo de abril.

A situação dos banheiros é crítica. Encontramos uma barca com quatro banheiros, três dos quais não funcionavam. A CCR diz que tem um número limitado de embarcações e que não pode tirar todas para fazer manutenção. Mas prometeu resolver essa questão. Outra é o Riocard, que hoje só passa após as 7h. Isso será revisto afirma Cidinha, que acrescenta. Firmamos um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), não-oficial, entre cavalheiros. Assinaremos um mais tarde. Temos que reconhecer que demora para chegarem as novas barcas, que já estão compradas. A previsão que a CCR me passou é para 2015, daqui a 24 meses. Me contam que estão tentando agilizar a situação, encurtar o prazo para 18 meses, e enquanto isso alugar outras, como essa nova para Charitas. Estamos corrigindo um descaso que vem de anos, de muitas administrações.

Atualmente a CCR Barcas administra 19 embarcações - sem contar com as duas novas previstas para entrar em operação ainda neste ano - que funcionam nas quatro linhas que fazem ligação com a Praça Quinze. De acordo com a concessionária, até dezembro está prevista a inauguração do novo terminal das barcas no Centro de Niterói com capacidade para 8 mil pessoas. Os catamarãs sociais também devem ganhar ar-condicionado, antiga reivindicação dos passageiros, após a chegada das novas embarcações encomendadas pelo governo.

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