quinta-feira, 16 de abril de 2015

Erros em projetos agravam o drama diário nos transportes do Rio

15/04/2015 -  O Dia - RJ


Rio - Erros de planejamento em praticamente todos os meios de transporte agravam o drama que os usuários enfrentam diariamente no Rio de Janeiro. Nesta terça-feira, reportagem do DIA mostrou que a nova barca da travessia Rio-Niterói tem custo operacional alto e faz o trajeto em 25 minutos, em vez dos 15 prometidos. No início do mês, o jornal revelou que os BRTs foram construídos com capacidade muito abaixo da demanda. Trens e o futuro bonde de Santa Teresa também estão nesta lista.

Os trens da SuperVia do ramal de Saracuruna, por exemplo, mostram desnível em relação à plataforma em pelo menos três estações: Olaria, Penha e Vila da Penha. Por isso, passageiros idosos e cadeirantes costumam pegar o trem em outras estações. A esteticista Luzinete Rodrigues, 29, diz que "quase ficou sem perna" no vão entre o trem e a estação. O motoboy Leonardo Alcântra, 27, conta que já teve que ajudar idosos: "Uma vez, uma senhora não conseguiu subir. Como o trem estava lotado, ela acabou sendo empurrada e quase caiu no vão."  

Em Santa Teresa, o desnível é entre os novos trilhos e os paralelepípedos recém-pavimentados. Ele dificulta a frenagem dos novos bondes. "Deveriam ter olhado quando estavam fazendo", comenta a moradora Sandra de Almeida, 60.

O professor Paulo Cezar Ribeiro, da Coppe/UFRJ, afirma que os transportes do Rio passam por um inferno astral. Ele cita, como exemplo, o erro de dimensão das barcas. "Não é possível que ninguém tenha previsto isso no projeto", diz. Para o professor de Administração da UFF e especialista em sistemas de transportes, os problemas derivam da pressa para concluir as obras. "A expansão da mobilidade tem que ser feita com muito planejamento, a longo prazo. Para ver a demanda dos BRTs, por exemplo, se deve fazer uma pesquisa de tráfego nas ruas, perguntando para um batalhão de pessoas as suas origens e destinos", explica.

Além da superlotação e da pavimentação inadequada em alguns trechos, para a implantação dos BRTs, houve remanejamento de linhas de ônibus e até a retirada de algumas delas de circulação. A professora da Escola Politécnica da UFRJ, Eva Vider, aponta problemas estruturais nos corredores do BRT. "A pavimentação foi mal feita. Um ônibus pesado não pode passar em uma via cheia de buracos. Isso gasta dinheiro e tempo que não temos", disse. Segundo o consórcio que opera o BRT, cerca de 11% dos 300 ônibus do sistema estão em manutenção ou quebrados. A Secretaria Municipal de Transportes admitiu que existem problemas e que eles já estão sendo identificados.

Passageiros se arriscam nos trilhos

Pelo segundo dia seguido, passageiros que utilizam os trens da SuperVia em direção à Central do Brasil foram obrigados a se arriscar sobre os trilhos para chegar às estações, depois que as composições do ramal de Santa Cruz pararam de circular por uma avaria na rede aérea. Segundo a concessionária, a interrupção na circulação dos trens foi provocada por atos de vandalismo.

De acordo com a concessionária, a pane no serviço foi causada por tiros que arrebentaram parte da rede aérea, junto à estação Tancredo Neves (ramal Santa Cruz). Ainda segundo a empresa, passageiros do ramal Deodoro foram afetados por outro ato, ocorrido na madrugada de terça-feira. A cabine do maquinista de um dos trens, que estava no desvio próximo à estação Intermodal Maracanã, foi arrombada. A composição descarrilou próximo às linhas do ramal Deodoro, retardando os intervalos. A agência reguladora Agetransp abriu boletim de ocorrência para apurar o incidente. Policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira) farão perícia no local e já solicitaram imagens de câmeras de segurança para identificar os vândalos.  (Colaborou Flora Castro e Maria Luisa Barros)

Governo do estado escolheu a barca gigante

O secretário estadual de Transportes, Carlos Osorio, informou que o estudo técnico que deu base à aquisição das sete novas barcas foi feito pelo governo estadual. De acordo com ele, os equipamentos têm garantia, e a fabricante chinesa pode ser sancionada caso o produto entregue não esteja dentro do que foi combinado. Osorio admitiu saber que a CCR Barcas pediu revisão da tarifa, mas disse ser contra aumentos.

"Quem define isso é a Agetransp, mas se necessário vamos à Justiça", disse. Ainda de acordo com o secretário, a empresa Engetron prestou consultoria e vai acompanhar a operação até que a última das sete embarcações seja entregue. Porém, ele confirmou que houve termo aditivo no contrato e que o projeto passou por alguns ajustes.

Ainda de acordo com o secretário, a empresa Engetron prestou consultoria e vai acompanhar a operação até que a última das sete embarcações seja entregue. Porém, ele confirmou que houve termo aditivo no contrato e que o projeto passou por alguns ajustes.

 "Tínhamos um custo operacional previsto, uma perspectiva em cima do índice de performance, quantidade de passageiros, nível de conforto e características do equipamento", afirmou. Mas, perguntado sobre os valores desta previsão, preferiu não dar números.

O gestor reconheceu que a barca é grande demais para entrar o estaleiro. "Cabe à CCR fazer as obras." Porém, de acordo com o aditivo quarto do contrato de concessão, esta atribuição seria do governo estadual. "Isso é uma discussão jurídica", ponderou.

Especialista em Mobilidade Urbana, o engenheiro Fernando Mac Dowell recebeu com surpresa as informações. "Ué, então quer dizer que primeiro compram para depois saber se ela funciona? No final do ano passado um representante do governo estadual me disse que o modelo escolhido tinha sido um que eu indiquei. Fiquei até feliz, mas quando vi o que compraram… tive que rir. Este projeto é um erro", sentenciou.

Sobre a justificativa da barca não ter ar condicionado, Mac Dowell diz não entender o motivo para o aparelho não ter sido instalado nos catamarãs sociais. "Ficaria muito mais barato para o consumidor. O governo acha que está fazendo favor, mas na verdade isso é dinheiro público", contou

Osorio informou ainda que está contratando mais um engenheiro naval para reforçar a equipe técnica da Secretaria.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Nova barca da CCR está se tornando um elefante branco

14/04/2015 -  O Dia - RJ

Rio - A Barca Pão de Açúcar completou um mês de operação no último sábado. Mas, em vez de festa e bons números para comemorar, a sensação é de que a gigante que vive parada na estação da Praça Araribóia está se transformando em um elefante branco. O sonho do governador Luiz Fernando Pezão era de que a travessia Rio-Niterói fosse realizada em 15 minutos. Porém, a promessa deu lugar a um pesadelo real que chega a 25 minutos.

Em um mês foram feitas 287 viagens (cerca de 14 por dia), com 174.723 passageiros. Isso dá, em média, 600 pessoas por viagem. Ou seja, se considerarmos as duas mil pessoas que ela pode transportar, a embarcação está funcionando com apenas 30% da sua capacidade.

Os problemas não param por aí. Segundo especialistas, o custo operacional da Pão de Açúcar chega a ser 50% maior que o dos catamarãs sociais (modelo para mil passageiros). Além de mais lenta e cara, ela é grande demais para entrar no estaleiro, que vai precisar de obras para acomodá-la. Como tudo que vai mal pode piorar, outras seis embarcações iguais foram encomendadas, num 'negócio da China' de R$ 300 milhões, pagos com dinheiro público.

Moradores de Niterói e usuários do serviço, os deputados Flavio Serafini (Psol) e Comte Bittencourt (PPS) buscam explicações. Desde que O DIA publicou que a concessionária levou prejuízo de R$ 110 milhões nos últimos anos, os dois procuraram a Agetransp e a Secretaria Estadual de Transporte.

Fontes informaram que o preço da tarifa básica indicado pela empresa seria de R$ 7,70 e passaria dos R$ 10, caso fossem feitos novos investimentos. O secretário de Transportes, Carlos Osorio, chegou a dizer que não sabia da negociação. "O presidente da Agetransp disse que a CCR pediu revisão de tarifa, sim", afirmou Comte. Já Serafini garantiu que fontes ligadas a Osorio confirmaram os R$ 7,70.

Especialista diz que problema não é a velocidade e, sim, a atracação

A CCR Barcas afirma que o tempo de travessia da Pão de Açúcar é de 16 minutos. Mas não é o que acontece na prática. Especialista em mobilidade urbana, Fernando Mac Dowell explica que a questão não é a velocidade, mas o tempo de embarque e desembarque.

"São apenas cinco quilômetros de trajeto, mas tem o tempo de atracação. A barca não vai com velocidade estável o tempo todo. Tem ainda o limite de velocidade imposto pela Capitania dos Portos. Então, não adianta comprar uma embarcação mais veloz se o tempo para ela atracar é maior", explicou, lembrando que indicou a compra de um modelo em que o embarque e desembar acontecia em apenas 1,25 minuto.

Outro especialista no assunto, o professor da Uerj, Alexandre Rojas, ressalta que primeiro o Governo Estadual comprou o carro para depois ver se ele cabia na garagem. "São duas mil pessoas entrando e saindo. Isso tinha que ter sido planejado, não adianta nada fazer o percurso rápido e depois gastar um tempão para atracar. Em Nova Iorque, por exemplo, a entrada e saída de pessoas se dá em dois andares. Isso que dizer, numa conta simples, que eles levam a metade do tempo. Tem que descobrir quem fez este projeto aí. Nem pode dizer que foi o estagiário, porque qualquer estagiário faria melhor. Ninguém viu as limitações e características da barca e da Baía?", indagou.

Número de passageiros caiu 14%

De acordo com a Agetransp, a demanda de passageiros nas barcas caiu 14,75% nos dois primeiros meses de 2015, na comparação com igual período de 2014. No total, foram 4,8 milhões de pessoas transportadas no ano passado, contra 4,1 milhões neste ano. Porém, a CCR Barcas informou em nota que "a demanda da travessia Rio-Niterói encontra-se estável no momento".

A secretaria Estadual de Transportes afirmou que o tempo de viagem caiu 7 minutos em comparação com o catamarã social, saindo de 22 minutos para 15. O deputado Comte Bittencourt contesta. "Eles deixaram de informar o tempo de saída para contar o tempo de embarque. Aí é claro que vai diminuir. Eu sou usuário e levo mais de 20 minutos", garante, lembrando que usou poucas vezes o novo equipamento que "está sempre parado em Niterói." O colega de Alerj, Flávio Serafini feito o trajeto em 25 minutos.

Os dois parlamentares disseram que vão acionar o Ministério Público caso a CCR, a Agetransp e a Secretaria Municipal de Transportes não apresentem explicações sobre o custo da operação e detalhes do projeto das novas embarcações.

Sobre o tempo de viagem, o especialista em Mobilidade Urbana, Alexandre Rojas, diz que é possível fazer uma média, mas que existem variáveis como as condições do mar, o tráfego de outras embarcações e a quantidade de pessoas. "Diante do cenário, a média deve superar os 25 minutos", concluiu.

Transtornos também na linha férrea

Os problemas nos transportes públicos do Rio também afetaram a malha ferroviária nesta segunda-feira. Na SuperVia, atraso nas circulação das composições do ramal Santa Cruz, provocou o caos nas estações. Um trem que seguia para a Central parou e alguns passageiros disseram ter andado pelos trilhos para chegar às plataformas.

Revoltados com a interrupção do serviço e a falta de informações, passageiros pularam as roletas e tentaram quebrar os equipamentos. A PM foi acionada para conter o tumulto e, depois de algum tempo, os passageiros receberam de volta o valor pago pelo bilhete. De acordo com a SuperVia, houve um problema na rede aérea.

Em Santa Teresa, moradores receberama notícia de que a entrega dos bondes foi adiada pela quinta vez. As obras serão refeitas, já que paralelepípedos mal colocados impedem a passagem dos freios dos veículos.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Governo do ES vai contratar novo projeto para Aquaviário

01/04/2015 - G1 ES

O atual governo do Espírito Santo decidiu contratar um novo projeto para a reativação do Sistema Aquaviário, em substituição ao que chegou a ser anunciado pela administração do governador Renato Casagrande. Segundo afirmou o secretário Estadual dos Transportes e Obras Públicas, Paulo Ruy Carnelli, nesta terça-feira (31), o projeto apresenta custo alto de manutenção e subsídio permanente 'altíssimo'. Ele explicou ainda que será prevista a integração do Sistema Aquaviário com o transporte coletivo por ônibus.

O valor do projeto era de R$ 1,2 milhão, apresentado por uma empresa privada por meio de Proposta de Manifestação de Interesse (PMI). O secretário garantiu que o governo não desembolsou dinheiro, explicando que, na PMI, sem aprovação e aceitação do projeto, não é feito pagamento.

O governo Casagrande chegou a lançar a licitação do Aquaviário, mas o Ministério Público de Contas (MPC-ES) pediu a suspensão imediata do processo, apontando irregularidades na concorrência pública, como quebra do sigilo da licitação, falhas no projeto básico e ausência de estudos de impacto ambiental.

A proposta do governo, na época, era efetuar uma concessão com duração de 20 anos, com valor estimado em R$ 1,4 bilhão. Segundo a atual gestão da Secretaria de Transportes e Obras Públicas, falta no projeto do antigo governo até estudo de demanda de passageiros, havendo velocidades de navegação incompatíveis com a Baía de Vitória.

Sem viaduto

Além do projeto do aquaviário, o do Portal do Príncipe, na entrada Sul de Vitória, amplamente anunciado pela administração de Casagrande – que realizou desapropriações para executá-lo –, também vai ser substituído por outro, sem a inclusão de um viaduto que favoreceria a saída de caminhões do Porto de Vitória.

Paulo Ruy resumiu em poucas palavras a explicação para a não-execução da obra do viaduto, que sairia do porto, passando sobre a Avenida Elias Miguel e desembocando nas proximidades da Ponte Florentino Avidos: técnicos consideram o projeto feio, inadequado, não sendo a solução viária correta para a região.

Ele disse que a prefeitura já concebeu uma solução para o local, sem o viaduto, mas não informou qual. Sobre o custo do projeto, disse que ele está incluído no pacote de todo o BRT - corredor exclusivo para ônibus, de R$ 32 milhões.

Corredor exclusivo

O governo garantiu que vai priorizar a adequação de vias de acesso com a infraestrutura necessária à implantação da primeira fase do projeto do BRT na Grande Vitória. Dentro do que ele definiu como obras estratégicas para os principais gargalos de trânsito na área metropolitana, está a ampliação da capacidade viária na BR-101 Norte, entre o viaduto sobre a linha férrea da Vale, em Carapina, na Serra, e a descida do Aeroporto, em Vitória.

Ali, segundo o secretário Paulo Ruy Carnelli, vai ser aberta uma passagem subterrânea de veículos, com acesso à Avenida João Palácio. Atualmente, no local, há um cruzamento com semáforo.

O Portal do Príncipe – sem o viaduto – também faz parte das obras a serem executadas, dentro do BRT, visando à eliminação da retenção de tráfego no lado Sul da Capital.

Outra obra anunciada pelo secretário, nesse "pacote" de intervenções, é a construção de um túnel sob o Morro de Monte Belo, na altura da Faesa, para que a Avenida Cesar Hilal seja ligada à Avenida Vitória, logo após a Fábrica de Ideias. Mas Carnelli não informou quando esse viaduto poderá ser, efetivamente, utilizado. A conclusão das obras da Avenida Leitão da Silva, da Rodovia Leste-Oeste e dos corredores Sudeste e José Sette também foram prometidas por Carnelli.